sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Crise nos MBAs

Talvez pudesse levar um pouco mais de tempo ou talvez tenha demorado até muito mais do que alguns já previam. O que não podemos negar é que essa crise em relação à forma que temos tratado o conhecimento e, em particular as especializações e formações profissionais, era uma bomba relógio.

Os MBAs, conforme matéria de capa da última AMANHÃ – publicação de gestão, economia e negócios da região Sul e uma das mais influentes e tradicionais do país, eles entram num capítulo dramático de sua história. Três letrinhas que outrora tiveram papéis protagonistas na diferenciação de um profissional para outro, agora o mercado passa a tratá-los como meros coadjuvantes. Estrelas sem brilho que se transformaram em commodity.

Qualquer especialista ao lançar um produto sabe que ele cumpre um ciclo de vida e se pretendemos classificar conhecimento também como um produto, sujeito as mesmas regras e processos de comercialização, os MBAs demonstram que mercadologicamente estão no seu ciclo final. Mas será mesmo possível confrontar conhecimento como um produto? Talvez eu ainda seja o último romântico e por isso acredito que conhecimento é um bem. Os produtos são entes mortos, o conhecimento é vivo. São as mãos de grandes publicitários e estrategistas que fazem o encantamento por automóveis, geladeiras, apartamentos, enfim. Que nos fazem entrar pelo menos 8 vezes ao mês em uma loja e comprar uma calça que pode ser usada apenas algumas vezes e depois ser jogada em qualquer canto do quarto. Produtos são descartáveis, a obra de Kotler, Druker, Picasso, Gabriel Garcia Marques, Eduardo Galeano, Jung e outros tantos pensadores, não basta apenas trocar algumas vírgulas, acrescentar algumas coisinhas, meter um nome mais charmoso e pronto: COLEÇÃO PRIMAVERAVERÃO 2009. Conhecimento é um bem para humanidade.


Infelizmente não é o MBA que está na beira do abismo, mas sim o significado que damos para as nossas vidas. Falta maturidade. A sociedade hipermoderna é tão exageradamente rápida que não deixa mais nada amadurecer. Produto é para agora e conhecimento é para sempre. O 2º grau está doente, a universidade está doente, o MBA está doente, os mestrados e doutorados acadêmicos estão doentes. Nunca foi tão legítimo escolher uma universidade que tenha bom mercado de trabalho. Nunca foi tão legítimo tratar o conhecimento como um produto. Saber qual o preço, as vantagens financeiras, o seu ROI – retorno do investimento tem sido mais importante que a relação dos docentes, o conteúdo abordado, a interpessoalidade entre alunos, professores, tutores e reitor. O eixo de pensamento e pesquisa das instituições, metodologia e aparato de suporte e dedicação da equipe, uma pergunta sempre de pós do que pré-venda.


Carro quando quebra a gente chama o mecânico, computador quando pára a gente chama o técnico, apartamento quando tem vazamento a gente coloca no código do consumidor. Criança pequena se os pais têm dificuldade e eles não pagam a escola, a escola não tira a criança da aprendizagem. Universidades são isentas de vários impostos. Porque quando conhecimento é ruim quebra com a vida da gente no presente e no futuro e nem sempre se encontra um removedor de mancha que se compra em qualquer prateleira do supermercado de forma que suma com aquilo dali.


Há pessoas que buscam um MBA para entender melhor os seus negócios, outras buscam para se tornarem profissionais de mercado mais qualificados e diferenciados, outros ainda porque representa um nível a mais e ascensão de cargo ou mesmo financeira. Há muitas necessidades, já ministrei aulas em MBA com pessoas acima de 70 anos junto com outras que mal tinham saído da universidade. Alguns colegas não gostam dessa diversidade, particularmente essa profusão de gêneros é a grande Era da Inovação. Ou esperamos praticar nosso ofício só entre mulheres, ou num escritório de pessoas em torno de 25 a 30 anos e quem sabe uma equipe só de executivos asiáticos?Devemos nos prepara para entender e ser entendido por todos e isso também é MBA – Master of Business Administration.

Gosto de pensar que nosso conceito de conhecimento está extremamente vinculado ao conceito grego e, em particular ao que conhecemos como filosofia, que significa aquele que ama a sabedoria. A investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo, ao homem e a natureza. Sendo assim, escolha seu MBA por amor, com afeto, sinta o carinho que está decisão vai dar a sua vida. Investigue se realmente as pessoas que você está escolhendo para lhe conduzir neste caminho poderão retribuir com a mesma intensidade o amor, o afeto e o carinho que você está depositando nelas. Porque o brilho de um ser não está no papel, está na bagagem que trás na sua alma.