segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Analfabetismo Funcional

Por Sander Machado e Paulo Ferreira
O mundo moderno é surpreendente. Surpreendente porque suas contradições são extemporâneas, ilárias e bruscas, o que nos faz crer que muitas pessoas, milhões delas, são como passarinhos engaiolados. Elas sentem, enxergam, admiram a beleza do lado de fora, mas por falta de liberdade e oportunidade permanecem presas em suas limitações.


A rede social Facebook, a mais nova onda das ferramentas de relacionamento, desde que o site abriu ao público não estudante há pouco mais de 3 anos, o número de membros duplicou para 24 milhões e os usuários passam em média 14 minutos conectados. Em contradição a este fato podemos salientar que o Brasil em 2007 já apresentava uma população maior que 180 milhões e que 12 % destes brasileiros eram analfabetos. Outros 30% da população são considerados analfabetos funcionais e um terço dos jovens com idade entre 18 e 24 anos não freqüenta escolas de ensino médio. Essas conclusões são da publicação Anuário 2007: Qualificação Social e Profissional divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) no período de março de 2008. Quer dizer, nossa população de analfabetos é superior a população do site mais badalado de nosso mundo, nós avatares do Século XXI, portadores assim, de uma contemporaneidade duvidosa.

Se nossos cálculos não estão errados, 30 % de 200 milhões seriam nada mais e nada menos, do que 60 milhões de pessoas que sabem ler e escrever o seu nome, mas tem imensa dificuldade em interpretar, desenvolver reflexões, pensar e definir caminhos a partir da linguagem escrita – Analfabetos Funcionais. Seguindo o que a UNESCO, indicava em meados de 90, o IBGE passou a divulgar os índices de analfabetismo funcional, tomando como base não a auto-avaliação dos respondentes, mas o número de séries escolares concluídas. A partir do que foi determinado passou a ser adotado como analfabetas funcionais as pessoas com menos de quatro anos de escolaridade.

É impossível se colocar no papel dessas pessoas analfabetas funcionais. Ir ao caixa eletrônico não é só passar o cartão na máquina, mas ter assimilado o raciocínio de quem criou aquela máquina. Voltar, anular, entrar. Um email não é só lê-lo. Baixar, deletar, encaminhar, expressões comuns para quem "navega" pela internet são um vocabulário grego para essa legião analfabetos funcionais que migram para a nova categoria de analfabetos digitais.

Nos deparamos a pouco tempo quando em um treinamento ao aplicar um teste, observamos que algumas pessoas não conseguiam responder. No primeiro momento alegaram ter esquecido os óculos. No segundo momento alegaram que a luz era ruim. Em um terceiro momento pediram para fazer em casa. Mas como temos sempre considerado que desenvolvimento e treinamento antes de mais nada é prestar atenção no ser humano que esta na nossa frente, assumimos um papel de ler as

questões e suprimir as dúvidas. Como resultado conseguimos fazer com que todos realizassem os testes e por incrível que pareça, os que não conseguiam ler não apresentavam nenhum bloqueio em quadrantes cerebrais que comprometesse o domínio das emoções e mais, ao vencerem o desafio mesmo com nossa ajuda.

Os dois pontos chaves do analfabetismo funcional são a falta de escola ou a escola não feita. Quer dizer, tirar o passarinho de uma gaiola e possibilitar ver o mundo além do próprio concretismo da informação. O combate ao analfabetismo funcional na empresa passa pela coragem da empresa em investigar e ter consciência da problemática. Após essa investigação os respondentes também tem que fazer o seu papel: determinação por parte do estudante de substituir parte do seu tempo por um rotineiro hábito de leitura, que a empresa pode por em prática em forma de oficinas poéticas, de teatro, até técnicas que visem não apenas à apreensão de informações técnicas, mas principalmente à solução ou amenização dessa deficiência básica de leitura, compreensão e produção da escrita. Trazer para o estudante obras com assuntos relacionados ao mundo de referência destas pessoas tem demonstrado ter mais eficiência e se maior adesão.

Aceitar analfabetos em pleno século XXI, empregados ou em busca de uma colocação no mercado é inadmissível. Para a idéia de um mundo que seja uma folha de papel, onde ao mesmo tempo que somos protagonistas também deixemos escrita a nossa história, temos que evocar por pessoas que participem da paisagem de forma completa. Que possam se apoderar dos seus universos, renovando e transformando tal como leitores. Porque a vida é tal como os livros. Eles se inscrevem sempre de forma particular em cada um de nós. E a vida ela se escreve de forma particular em cada um de nós.

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